
Juliano Azevedo
RECADO DAS FLORES
Na entrada do prédio onde moro há um jardim. Área verde com coqueiros, grama, flores, plantas que não sei o nome, que trazem beleza para a decoração de uma rua em que o concreto domina. E o asfalto, todo destruído, provoca a ira e o medo dos motoristas que se arriscam a subir a ladeira com seus pneus carecas. E, certamente, o que resta da cobertura asfáltica também motiva algumas idas inesperadas ao mecânico.
Certa vez, um motorista de aplicativo de transporte me informou que, no meu perfil, quando chamo um carro, aparece o alerta: Área de Risco. Fiquei intrigado sem entender a classificação, mas me diverti dizendo a ele que o risco era subir o morro sem embreagem e sem freio. Quando chegamos nas proximidades do meu desembarque, ele concordou completando a piada: “aqui, todo santo tem de ajudar mesmo, para baixo e, com muita oração, para cima”.
Mesmo que eu traga essa descrição por um ponto de vista negativo, gosto de chegar em casa e observar o jardim. Ele me anima, encanta e me faz esquecer o “risco” da redondeza por causa das lantanas plantadas logo na entrada. A planta ornamental possui flores que são agrupadas em hastes aromáticas, florescendo quase o ano inteiro. Apresentam várias tonalidades, com destaque para as cores vermelha, amarela, laranja e branca. Atraem borboletas, insetos e pássaros. Eu ainda tenho o contato com uma família de gatos que vive se escondendo entre as plantas. No momento, temos cinco felinos passeando pelo prédio.
Observo as borboletas e peço que elas também me ajudem nos processos em que desejo transformação. Converso com as abelhas, aprendendo que devo me comunicar melhor e a me organizar de forma harmônica, equilibrada e eficaz, principalmente, quando convivo em grupos. Dos gatos, tiro muitas lições: concentração, independência, cuidado, autocura e como sou sortudo em ter a natureza por perto. As lantanas estão vibrantes após os dias de chuvas intensas. Cores e perfume marcantes para os olhos.
Descobri recentemente o nome dessa planta e suas particularidades. Na medicina popular, a lantana camara é utilizada como diurético, expectorante, anti-hemorrágica, antirreumática, febrífuga, e suas raízes atuam como anticonvulsivo. A flor tem um belo significado, sobretudo, para este momento em que estamos passando por uma guerra no leste europeu. A lantana simboliza a aceitação dos outros pelo que são, com todos os defeitos e virtudes.
Aprender com a lantana me mostrou que até o asfalto corroído tem o seu valor se o trouxermos para outro ponto de vista: o trânsito fica mais lento por causa da cautela necessária para se trafegar ali, por exemplo. Os carros diminuem a velocidade para descer morro abaixo, o que já deve impedir batidas no cruzamento no fim da rua.
Nas relações humanas, isso se chama aceitação e observação das expectativas, pois a aceitação permite que nos coloquemos de frente as nossas fraquezas, tendo um coração mais sereno e quieto com o que a vida oferece. Assim, diminuímos as cobranças duais do fraco e do forte, do bem e do mal, do certo e do errado. E passamos a entender que aceitar não é mudar o outro nem a si mesmo, mas é viver de forma leve, sendo verdadeiramente, a própria essência. Com perfume floral, de preferência.
Juliano Cardoso de Azevedo
Terapeuta, Professor, Jornalista
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