Poleiro do Chantecler – O ferrinho do dentista
Meus caros, raros e fieis leitores,
Conheci o Célio em 1988, último ano de seu primeiro mandato como prefeito. Na época, eu trabalhava como economista do IPEA, em Brasília, e ele irrompeu meio que de repente na minha sala e, todo expansivo, se apresentou como prefeito de Bom Despacho. Ele já tinha ouvido falar de mim e eu dele, claro. Batemos um longo papo, tomamos um café lá mesmo no meu trabalho. Ele achava que eu era importante lá em Brasília (coisa que eu não era) e me pediu para ir com ele no Ministério da Fazenda onde ele queria pedir uma verbazinha para reformas de duas ou três escolas municipais. Fui com ele. Por sorte, eu conhecia bem o chefe do setor que ele queria e isso facilitou um pouco as coisas pra ele. Depois disso, tiramos uma foto e nos despedimos. Gostei dele. Era um sujeito simples, espontâneo, sincero, nada arrogante.
Passei uns tempos sem vê-lo. Eu raramente vinha a Bom Despacho – uma ou duas vezes por ano no máximo. Porém, em 1995, novamente o Célio – já em seu segundo mandato como prefeito – me fez uma visita surpresa. Dessa vez, na Câmara dos Deputados, onde eu trabalhava na Consultoria Legislativa como economista concursado. Ele continuava achando que eu era importante e “mandava” em Brasília – o que continuava não sendo verdade. Mas, eu deixava ele achar. Era bom para meu ego. Fui com ele na sala de dois ou três deputados que ele conhecia. Fui como “dama” de companhia. Praticamente não falei nada. O Célio, loquaz como sempre foi, não me dava tempo de dizer alguma coisa. Mas, não me importei: o evento era dele, prefeito, e ele conhecia os deputados mais do que eu. Ao final, mais uma foto que, por sinal, tenho até hoje. Só não sei onde a pus.
Voltei para Bom Despacho em 2001 para trabalhar na Administração do Geraldo Simão e aqui fiquei até 2018. Nesse período, eu o Célio tivemos poucos contatos, mais na base do “oi!”, “oi!”. Foi só mais recentemente, com meu retorno pra Bom Despacho em 2021, foi que tive mais contatos com o Célio. E isso se deve principalmente às nossas “pescarias” mensais, (sempre o mesmo grupo), no rancho do Dr. Toró (que alguns chamam de Dr. Domingos). Ele sempre foi meu caroneiro para ir e pra voltar. E íamos daqui pra lá e de lá cá falando de política. Ele, claro, loquaz como sempre, falava muito mais que eu. Nem sei porque a gente não brigava. Tínhamos pontos de vista bem opostos um do outro. Ele era um esquerdista convicto, um lulista de primeira linha – embora nunca tenha admitido ser petista. Eu, de minha parte, sempre fui um economista de formação liberal e tudo o que eu não gostava (e nem gosto) é da esquerda no Poder. O Lula principalmente.
Além de nossas idas e vindas ao rancho do Dr. Toró, tínhamos muito contato pelo whatsap, tanto no grupo de “pescadores”, como no grupo da “sinuca do Ipê”e mesmo no privado. Ele rotineiramente postando loas e boas sobre o governo Lula – para ele o maior de todos os presidentes que já tivemos. Eu costumava rebater quase tudo o que ele postava, às vezes com bastante ironia. Mas, ele nunca ficou chateado com isso. É como se ele dissesse: você tem sua opinião, eu tenho a minha. E não precisamos brigar ou ficar inimigos por causa disso!”
Que mais posso falar de meu amigo Célio Luquine? Que ele foi um ótimo prefeito por dois mandatos? Isso todo mundo sabe. Foi ele quem construiu o Terminal Rodoviário Pedro Tavares Gontijo – ou simplesmente rodoviária. Também foi ele quem instalou em nossa cidade o CAIC da Tabatinga. Em parceria com o SESI-MG, construiu o CAT Roberto Teixeira Campos – o Centro de Atividade do Trabalhador. Como todo bom prefeito, asfaltou muitas ruas, criou postos de saúde e reformou escolas municipais. Ah, e, como prefeito, era um ferrenho apoiador do famaoso Coral Voz e Vida. Ele se orgulhava de ter sido o primeiro prefeito realmente de origens populares.
Célio foi casado, primeiramente, com a Regina Caeli com quem teve quatro filhas. Anos depois se separou e se casou com a Jussara com quem teve duas filhas e com quem viveu até seu último dia de vida. Com ela, teve mais duas filhas. Ou seja, até em seus dois casamentos ele contribuiu para que o mundo melhorasse ao ter seis filhas e nenhum homem (sem demérito para nós, homens).
Que mais posso falar dele? Que ele foi um homem íntegro? Isso também todos já sabem. Que ele foi um prefeito honesto, sem nenhum deslize na administração dos recursos públicos, isso também todos sabemos. Que ele era amigo dos amigos, sempre de bom humor, não guardava mágoas? Isso também era um fato inconteste.
O que eu sei é que, de repente, não mais que de repente, o Célio nos deixou. É verdade que ele já andava há algum tempo um tanto doente. Mas ninguém esperava que ele se fosse tão cedo.
O que se sabe é que Bom Despacho acaba de perder um de seus maiores homens públicos. O que é verdadeiramente uma pena. E o que eu posso afirmar com convicção é que ele vai fazer muito mais falta aqui do que lá no Céu. Uma pena, mesmo!
Tchau, meu amigo! Descanse em paz! Você fez por merecer.
Chantecler.