Celebrei mais um ano de vida no mês de setembro, que tanto amo, por nos mostrar na natureza, com a chegada da primavera, o quanto as flores chegam embelezando os nossos dias, mesmo depois de passarem por períodos de vento e seca extrema. Sempre faço desta estação uma analogia para superar as dificuldades da vida e ser grata a mais um ciclo completo. Aos 48 anos, posso afirmar que sou uma pessoa realizada… conquistei ainda jovem a profissão que sonhava na área de tecnologia; constituí uma família linda; superei o câncer de forma que pude ajudar outras famílias, fundando a ONG Metástase do Amor; tornei-me uma autoridade política reconhecida pela ética e trabalho; tenho a oportunidade de defender a saúde e a inclusão por todo o estado mineiro; e estou encantada com minha fase de vovó e ao mesmo tempo, feliz por me confiarem os cuidados com minha mãe, diagnosticada com demência. Enfrentei tantos desertos na vida, mas Deus me moldou em todos eles, me transbordou de amor e me dedico a tudo que pode mudar a vida das pessoas.
Mas o calendário, além de um aniversário meu, marca mais um Setembro Amarelo, e em 2025, a urgência de falar abertamente sobre a prevenção do suicídio nunca foi tão evidente. Longe de ser apenas uma cor ou uma campanha de um mês, o Setembro Amarelo representa um convite global à empatia, ao diálogo e à ação. É um lembrete crucial de que a vida é o bem mais precioso e que, juntos, podemos construir redes de apoio capazes de salvar vidas. Desde o ano 2015, o Brasil utiliza este mês para conscientizar a sociedade sobre a prevenção do suicídio, mas há países no mundo que já o fazem há muito mais tempo. O primeiro movimento ocorreu nos Estados Unidos, em 1994, quando a família de um jovem que teve a vida interrompida, distribuiu cartões com fitas amarelas e frases de efeito para ajudar pessoas que estivessem vivenciando crises emocionais.
A cada 38 minutos, alguém suicida no Brasil e para cada uma destas mortes, há outras 20 tentativas. Suicídio não pode ser abordado como um tabu e precisa ser encarado por todos nós como um problema de saúde pública. Essas estatísticas não são apenas números e representam histórias interrompidas, famílias em luto e um sofrimento que pode ser prevenido. Apesar de ocorrer em todas as faixas etárias e classes sociais, certos grupos são considerados de maior risco, como adolescentes e jovens adultos, pessoas LGBTQIA+, indivíduos com transtornos mentais (depressão, ansiedade, transtorno bipolar, esquizofrenia), usuários de substâncias psicoativas, e aqueles que sofreram eventos traumáticos ou perdas significativas.
A globalização, a rotulação de padrões de beleza e sucesso, a falta de diálogo, os efeitos pós pandemia, o extremismo político, as crenças, o uso em excesso de redes sociais são gatilhos que colocam em desequilíbrio a saúde mental. Saber identificar mudanças de comportamento, isolamento, desesperança, verbalizações de querer morrer, ou o início do descarte de bens valiosos pode ser o primeiro passo para intervir ou pedir ajuda.
Conversar sobre sentimentos e dificuldades não é sinal de fraqueza, mas de coragem. Precisamos aprender a ouvir sem julgamento e a oferecer apoio para que as pessoas expressem sua dor. A família, amigos e colegas têm um papel fundamental nesse primeiro acolhimento. As políticas públicas precisam ser revistas, atualizadas conforme as diretrizes globais e nacionais e os gestores precisam criar mais espaços para a atuação de profissionais de saúde e assistência social, inclusive pelo fortalecimento de parcerias público-privadas e apoio às instituições do Terceiro Setor, para intensificar a divulgação de informação e para garantir que mais pessoas tenham acesso a terapias e tratamentos psiquiátricos adequados.
O diálogo e os gestos de apoio importam e desejo que o amarelo de setembro ilumine não apenas um mês, mas a consciência de que a vida vale a pena ser vivida e protegida por todos nós.
Juliana Jaber é palestrante motivacional, gestora de pessoas, analista de tecnologia da informação, empreendedora, escritora e ativista da saúde e defensora da educação inclusiva. Foi vice-prefeita de Bom Despacho (2021-2024). É fundadora da ONG Metástase do Amor, que apoia famílias no enfrentamento do câncer. Acompanhe @jujaber pelas redes sociais e conheça mais sobre sua história e trabalho no site www.julianajaber.com