A batalha de um paciente oncológico vai muito além do combate à doença em si. Os efeitos colaterais do tratamento são debilitantes e temos excesso de náuseas, dores, fadigas, inchaços, sangramentos, quedas de cabelo e outros sintomas, causados por quimioterápicos. Passamos por cirurgias agressivas e muitos de nós, nos tornamos deficientes físicos na jornada para a superação da doença. Mas o que quase ninguém vê são os efeitos colaterais emocionais e financeiros, que assolam as famílias.
Quando somos diagnosticados com câncer, a sensação que se tem é do acionamento de uma bomba relógio. Tudo passa pela nossa cabeça… filhos pequenos para criar, trabalhos não finalizados, sofrimento dos familiares, sonhos não realizados, enfim, entramos em colapso porque achamos que não teremos tempo para mais nada. Há medo, raiva, tristeza, impotência, culpa, emoções misturadas, que criam um estado de tensão e insegurança contínuo e que afeta a saúde mental de todos.
O fortalecimento da espiritualidade, seja pela religião, leitura, prática de atividades na natureza, ou pela participação ativa em grupos de convivência e trabalhos voluntários durante o enfrentamento do câncer, nos ajuda no resgate de nossa identidade e na redescoberta do verdadeiro sentido da vida. Para lidar com os efeitos emocionais, a terapia familiar e o aconselhamento psicológico são muito importantes, pois nos ajudam a processar as emoções, melhorar o diálogo e a encontrar estratégias para manter o equilíbrio no enfrentamento do câncer.
É preciso lembrar que a doença chega e abala toda a estrutura financeira da família. A renda cai, porque há necessidade de afastamento das atividades laborativas. Os custos aumentam, em virtude de despesas de deslocamentos, hospedagens, alimentação, medicamentos e em alguns casos, adaptações na casa, na tentativa de dar qualidade de vida ao paciente. A soma desses gastos e a perda de renda levam à chamada “toxicidade financeira”, uma condição em que o peso dos custos do tratamento causa um estresse financeiro severo, que leva à dívidas, venda de bens, depressão profunda, e, em casos extremos, ao colapso financeiro.
Estar atento aos seus direitos enquanto paciente oncológico e conversar abertamente sobre a situação financeira são vitais para garantir dignidade neste momento de caos. O suporte financeiro é necessário para apoiar as famílias, que devem estar abertas à busca de ajuda da rede de apoio assistencial do município, das organizações de apoio a pacientes com câncer, da família e amigos, para aliviar a carga da pressão financeira.
O Outubro Rosa sempre me leva a uma série de reflexões sobre como minha vida mudou depois do câncer. Quando recebi o diagnóstico de câncer de mama metastático, estava no auge da carreira profissional e vivendo minha fase adulta, como mãe de dois pré-adolescentes. O apoio da família foi primordial para a superação da doença, mas não teria sido suficiente em minha jornada. Recebi muita ajuda de amigos e de profissionais da saúde. Por várias vezes, precisei de gente para cuidar da minha higiene, saúde física, financeira e mental. Fundei a ONG Metástase do Amor para que ela se tornasse uma rede de apoio às famílias que enfrentam o câncer. Participei da política para que tivéssemos visibilidade suficiente na sociedade para mostrar que podemos fazer grandes coisas juntos. Agora, mais do que nunca, conhecendo sobre as leis, direitos dos pacientes crônicos e tendo vivido a experiência na vida pública, sigo firme, para apoiar a construção da sede, para lutar pelo acesso de todas as famílias a tratamentos e medicamentos e para que a esperança nos conduza a um futuro em que tenhamos mais hábitos saudáveis, qualidade de vida e bem-estar.
