Filhos e filhas,
Um dos aspectos que mais me toca nas aparições de Nossa Senhora das Graças, a ser celebrada no dia 27 de novembro, é o momento em que Santa Catarina, diante da Virgem, percebe que alguns raios da imagem estavam apagados. Ela então pergunta o motivo, e Nossa Senhora responde: eram graças que Ela desejava derramar, mas que as pessoas simplesmente não pediam.
Isso me faz refletir sobre a imensa misericórdia de Deus. Ele já dispensa graças sobre nós, mas por que tantas vezes não as alcançamos? Porque Deus não invade corações fechados. As graças só se completam quando vamos ao encontro Dele. A vida espiritual é exatamente isso: busca e encontro.
Nossa grande busca é Deus. Ele é o amado de nossa alma. Como escreve São João da Cruz em seus poemas espirituais:
“Buscando meu Amor, meu Amado, vou por montes e vales, sem temer mil perigos. Nem flores colherei no caminho, pois segui-Lo é preciso sem deter-me ou parar. Já não tenho outro ofício, só amar é o exercício. Solidão povoada, presença amorosa do Amado. Viver ou morrer, sem Ele eu não quero ser!”
Busquemos encontrar Deus, e Ele se deixará encontrar. O próprio Senhor nos garante pela boca do profeta Jeremias:
“Vocês me procurarão e me encontrarão, se me buscarem de todo o coração” (Jr 29,13).
Não importa se é como na Parábola dos Trabalhadores da Vinha (Mt 20,1-16): ao amanhecer, ao meio-dia ou no entardecer da vida, todos nós nos encontraremos com Deus, seja pelo amor ou pela dor.
Jesus nos revelou o Pai. Ele é o caminho que conduz ao Pai, a luz que dissipa as trevas. Ele disse: “Eu vim como luz” (cf. Jo 12,46), mas muitos preferiram as trevas. Quem vive no pecado rejeita a luz. Todos fomos crianças e sabemos: quando uma criança apronta, ela se esconde nos cantos escuros para não ser vista, para evitar a bronca. Assim acontece com quem está no pecado: não quer luz, não quer discernimento, afasta-se da Igreja, dos sacramentos, das pessoas de bem.
O pecado gera mais pecado. Quem vive nas sombras prefere continuar escondido, para que sua miséria não venha à tona. Aproximar-se da luz de Jesus significa olhar com sinceridade para a própria sujeira interior e dizer: “Sou eu, Senhor. Dissipa as trevas da minha vida.”
Jesus é a verdade, não a “verdade” do mundo, que é como analgésico: alivia a dor, mas não cura. A verdade do mundo fascina, engana, cega. A verdade de Deus, muitas vezes dói, mas sempre liberta. A felicidade que buscamos, e que todos desejamos, só se encontra em Deus, por meio de Jesus.
Não coloquemos o peso da nossa felicidade em pessoas. Não entreguemos todos os trunfos da nossa vida a alguém. Confiemos em Deus: Ele é fiel. Busquemos a luz sem trevas, a verdade sem enganos, e a felicidade plena que só existe em Deus, em Cristo Jesus.
Deus abençoe,
Padre Reginaldo Manzotti
