Poleiro do Chantecler – Coisas da vida
Meus caros, raros e fieis leitores,
Pois é, gente, o Ronaldo Leite nos deixou. A geração mais nova de Bom Despacho talvez não se lembre muito dele. Mas a geração acima dos 50 com certeza o conhecia bem. Por uns tempos, andou mexendo na política de Bom Despacho. Estava no sangue. Seu pai – o Antônio Leite – foi prefeito aqui por três vezes. Um dos prefeitos mais íntegros que por aqui passaram. O Ronaldo seguiu os passos do pai. Foi Vereador, foi Vice-Prefeito. E tal como o pai, era de uma integridade a toda prova.
Era engenheiro, calculista e até geólogo segundo me foi dito. Sujeito de um coração sem tamanho. Quantas e quantas plantas de casa que ele fez e assinou de graça para as população menos favorecida. O seu desprendimento e o seu desapego às coisas materiais eram sua marca registrada. Educado, gentil, cavalheiro. Amigo dos amigos, mas, na verdade, amigo de todos pois não existiu pessoa que falasse algo que desabonasse sua conduta.
Amigo da família que sempre fui – considerava a mãe dele, a Josefina, quase que uma segunda mãe pra mim – eu costumava ir à casa dela rotineiramente. Semanalmente, a gente jogava um “caixeta” e, como em todo jogo de cartas, às vezes havia uma ou outra pequena discussão durante o jogo. Nunca vi o Ronaldo levantar a voz ou “perder a esportiva”, como costumamos dizer. Um doce de pessoa.
Recentemente, adoeceu e seu estado de saúde piorou aceleradamente tornando a doença irreversível até o desfecho final. A gente não acreditava que isso iria acontecer. Mas, aconteceu. A natureza às vezes é impiedosa.
No seu velório algumas pessoas, parentes, principalmente, se manifestaram em sua despedida. Da Angelita, sua irmã, extraio uma parte do poema “Partida Serena” que ela leu:
“Não digam que eu fui embora,
Apenas atravessei o caminho.
Sigo vivendo em tudo que amei,
Nos gestos simples, no tempo que dei.
…
Não chorem por minha ausência.
Sorriam pelo que vivemos juntos.
Minha história continua em vocês,
E o amor não morre nunca!”
Também me permito transcrever parte de um texto escrito por sua esposa – a Elisa – e lido na ocasião pela sua filha Daniela:
“…Ele se foi mas deixou a certeza do dever cumprido com dignidade, respeito, carinho, amizade, empatia, cumplicidade. Realmente, uma homem admirável, um profissional como poucos, um companheiro além da vida. (Mesmo ele indo embora)…estou feliz por ter orgulho e gratidão ao compartilhar lembranças tão queridas de quem viveu mais de 50 anos comigo em total harmonia, parceria e amor verdadeiro… Me sinto privilegiada de ter convivido com ele tantos anos. Foi tudo muito bom. Pena que passou tão rápido. Até algum dia meu amor! E continue aqui do nosso lado sempre. Sempre precisaremos de você aqui por perto!”
Pois é: o Ronaldo se foi. Ele era parte do que eu costumo chamar de “minha geração de ouro” – a geração dos jovens dos anos 60 e 70. É mais um que se foi. E paulatinamente iremos todos nos encontrar do outro lado. Com certeza.
A verdade verdadeira é que Bom Despacho acaba de perder um de seus maiores homens públicos. O que é verdadeiramente uma pena. E o que eu posso afirmar com convicção é que ele vai fazer muito mais falta aqui do que lá no Céu. Uma pena, mesmo!
Tchau, meu amigo! Descanse em paz! Você fez por merecer.