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CARTA A UMA JOVEM SENHORA DE 113 ANOS

Bom Despacho, querida,

Você sabe perfeitamente que nunca me esqueço de seus aniversários. Quando não posso comparecer à sua festa, sempre lhe envio pelo menos uma cartinha de congratulações, como agora. A primeira carta que lhe enviei para cumprimentá-la foi há 13 anos. Você estava completando 100 anos. Nela eu dizia que você parecia uma jovem debutante de 15 anos, com aquela beleza e jovialidade próprias da juventude. Que idade bonita para uma cidade. Depois lhe escrevi em quase todos os seus aniversários. A última foi nos seus 111 anos, comemorados em 2023.

Como já lhe disse na última carta, eu agora estou morando aqui definitivamente. Mudei pra cá há 4 anos. Confesso que, quando voltei, você, apesar de ainda jovem, me pareceu um pouco envelhecida, com algumas rugas precoces. Suas ruas estavam sujas, sem aquela cor viva que lhe é peculiar, com buracos e com um asfalto feio, cheio de altos e baixos de emendas mal feitas. Sei que não era culpa sua. A culpa era dessas últimas administrações municipais que nunca ligaram muito para você. Mas, não se cheteie com minha franqueza. Apesar de mal cuidada, você continua uma “coroa” bonita, simpática e amiga. E tem mais: está me parecendo que esse novo prefeito – o Fernando Andrade – pretende cuidar um pouco mais de você. Aí, então, você vai ficar mais bonita ainda e voltará a se parecer com a “cidade sorriso” que sempre foi. Tomara!

E verdade seja dita: mesmo não sendo bem cuidada como a gente gostaria, é preciso admitir que você tem mudado muito, minha Bom Despacho querida. De uma cidadezinha provinciana e bucólica, se transformou, hoje, numa cidade mais moderna, mais agitada e até mais cosmopolita. A velha geração de empresários-fazendeiros deu lugar a novas lideranças empresariais como os irmãos Guerra e Eduardo Amaral, o Gilberto da Plastbom, o Taquinho da Adibom, o Almir do VAP, o Fernando da Vidromat, o Fernando da Papelaria Central, o Toninho dos Calçados Paula, o Eduardo Fidélis, Haroldo do Kit e tantos outros.

Como lhe digo sempre, minhas cartas pra você têm todas um mesmo tom – o tom da saudade e das lembranças dos tempos que aí vivi desde criança. Lembranças do meu curso primário no Coronel Praxedes, da minha adolescência no Ginásio Miguel Gontijo. E quando subo a Rua do Céu e vejo a casa onde eu morava, me bate no peito uma saudade infinita de meu pai – o Adriano do Ginásio -, de minha mãe – a Nair Foschetti Escoteira – e de meus irmãos.

Lembro-me demais dos “footings” das 6as. feiras e dos sábados à noite, ali defronte o Cine Regina – que era onde começavam todas as paqueras e namoros. Ah, o Cine Regina! Que saudade das matinês de domingo à tarde e, quando já rapaz, das sessões noturnas após o “footing”. Tenho na memória até hoje aquela música que tocava antes e após o término dos filmes – a Stéphanie Gavotte Op. 312. Quando ouço este minueto me dá até arrepios. Arrepios de saudade!

Também me lembro demais da Praça São José – hoje Antônio Leite – onde jogávamos nossas peladas, muitas vezes com bola de pano, e onde se armavam os parques e circos que chegavam à cidade. E a Casa Assunção na época de Natal, com seus brinquedos fantásticos exibidos nas suas escadas e na calçada? Que época gostosa!

Saudosista que sou, sinto saudades da minha turma do Ginásio Miguel Gontijo de 1959 que, sem demérito para nenhuma outra turma, a gente sempre ouvia os professores dizerem que era a melhor turma que por lá passou. Dela fizeram parte o Cícero Ivan, o Ricardo Nogueira, o José Celso Valadares, o Iran Pessoa, a Haidêe da D. Liquinha, a Elisa Mesquita, o Azul, o Pássaro Preto e, claro, este escrevinhador. Infelizmente, não me lembro do nome de todos.

E por falar em Miguel Gontijo, que saudade do Professor Magela, do Elvino Paiva, da D. Leia, da Auxiliadora, do Calais e do Tarcísio Assunção, professores cuja qualidade e competência já decantei em prosa e verso pelos caminhos que caminhei. E não esqueço, também, de jeito nenhum, da professora Eulina (dos meus tempos do Coronel Praxedes) e da professora Maria do Doca (do meu admissão) e que se tornaram pra mim o modelo do que deve ser uma professora.

Mas, minha querida, eu poderia ficar aqui conversando com você indefinidamente. Assunto é que não falta. Eu até que gostaria de lhe pedir para mandar um abraço para vários de meus amigos aí. Mas a lista seria infindável e eu poderia cometer o pecado de esquecer algum. Melhor diria, dê um abraço a todos os meus conterrâneos. Assim, não esqueço ninguém.

E se cuide, tá? As pessoas que aí habitam são as melhores que alguém poderia desejar como conterrâneas. São amigas, solidárias e sempre sorridentes. Como você.

E agora terminando, Bom Despacho querida, deixo-lhe os meus parabéns pelos seus belos 113 anos. Que você continue sendo esta cidade acolhedora e de sorriso bonito que a todos encanta. Receba um abraço especial deste seu fã e amigo incondicional.

Mozart Foschetti

Mozart Foschete

Poleiro do Chantecler – O ferrinho do dentista.

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