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O tabu da saúde mental nas cidades do interior

Viver no interior tem muitas vantagens: ruas mais tranquilas, o tempo que parece correr mais devagar, o rosto familiar das pessoas que cruzam nosso caminho.

Mas há um outro lado, menos visível, que muitas vezes é ignorado: a dificuldade que muita gente sente em buscar ajuda psicológica justamente por “todo mundo se conhecer”.

Em cidades pequenas como Bom Despacho, ainda é comum ouvir frases como “psicólogo é coisa de gente doida” ou “se eu for na terapia, fulano vai ficar sabendo”.

O medo de julgamento, o receio de expor dores e vulnerabilidades e o desejo de manter uma imagem de “vida perfeita” fazem com que muitas pessoas sofram caladas.

Esse silêncio emocional tem um preço. Problemas como ansiedade, depressão, luto mal elaborado, esgotamento emocional e conflitos familiares são vividos no escondido, muitas vezes sem nome, sem escuta e sem acolhimento.

A vergonha de demonstrar fraqueza leva ao isolamento. E o que poderia ser cuidado precocemente acaba se transformando em sofrimento crônico.

O paradoxo é que vivemos tão próximos uns dos outros e ao mesmo tempo tão distantes emocionalmente.

O medo de se mostrar “fraco” é sustentado por uma cultura que valoriza a força, a resiliência silenciosa, o “não incomodar”.

Mas buscar ajuda é, na verdade, um ato de coragem. É admitir que viver é complexo, e que ninguém precisa dar conta de tudo sozinho.

Como psicóloga, vejo todos os dias o alívio que é, para muitas pessoas, encontrar um espaço seguro onde possam ser apenas humanas com suas dúvidas, dores, histórias e desejos.

Precisamos, como comunidade, quebrar o estigma de que cuidar da mente é sinal de fraqueza. É o contrário: é sinal de maturidade emocional.

Precisamos falar disso nas escolas, nas igrejas, nos grupos de amigos, nas empresas, no posto de saúde. A saúde mental precisa ser assunto de todos nós.

Se você está passando por um momento difícil ou mesmo se sente confuso, sem saber o que está acontecendo dentro de você, saiba: você não está sozinho.

E procurar ajuda é um passo valente em direção a uma vida mais leve e verdadeira.

Dra. Gisele Silva

Psicóloga com 17 anos de formação. Especialista em Psicologia Clínica. RP 04/27541

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