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POR QUE MINHA GERAÇÃO FOI A GERAÇÃO DE OURO?

Meus caros, raros e fieis leitores,

Outro dia fui questionado na rua por um de meus raros e fieis leitores que queria saber por que eu costumo chamar em minhas crônicas a minha geração de “a geração de ouro”. Quando eu digo isso, historicamente refiro-me à geração de jovens que vai do final dos anos 50 até a primeira metade dos anos 70. Esta foi uma época de muitas mudanças políticas, sociais, artísticas e econômicas não só no Brasil como em boa parte do mundo.

No campo artístico foi a época do surgimento de grandes cantores e compositores nacionais. A lista é enorme: Chico Buarque, Caetano e Gilberto Gil e os Novos Baianos, a Bossa Nova, a Jovem Guarda com Roberto Carlos à frente. Foi o apogeu da música popular brasileira. Já não se faz gente como essa. A nível internacional, surgiram os Beatles, Elviz Presley, Frank Sinatra, Sammy Davis Jr., The Rolling Stones, The Who e tantos outros.

Foi no final dos anos 60 que o primeiro homem – Neil Amstrong – pisou na Lua. O feito foi tão extraordinário que muitos que o assistiram pela TV em preto e branco não acreditaram no viram. Meu pai mesmo morreu sem acreditar 15 anos depois. Achava que tudo não passou de truque dos americanos.

Foi nos anos 60/70 que o Brasil fez reformas drásticas em várias áreas importantes de caráter econômico. Foi a época dos grandes “Planos de Desenvolvimento Econômico” – os famosos PND – que transformaram a infraestrutura econômica do Brasil, possibilitando taxas excepcionais de crescimento do PIB. De 1968 a 1973, a taxa média de crescimento de nosso produto bruto situou-se na casa dos 11% ao ano. Foi a época do “Milagre Econômico”. O sistema bancário – constituído antes de simples bancos comerciais de recebimento de depósitos e pequenos empréstimos – sofreu uma reforma drástica que diversificou ao máximo as linhas de atuação dos bancos. Foram criados bancos de poupança, bancos de investimento, bancos de habitação e cooperativas de crédito.

Os Correios que, à época, mal entregavam uma ou outra carta, também sofreram uma reforma modernizadora radical em 1968. Me lembro bem, todos os antigos funcionários, acostumados na modorrenta tarefa de apenas entregar cartas que demoravam quase um mês para chegar, quando chegavam, foram mandados para suas casas, sem serem demitidos, ou seja, continuaram ganhando seu salário. Em seu lugar, surgiu uma gente nova, concursada e dinâmica. O correio modernizou-se rapidamente a tal ponto que, em 1972, foi considerado o segundo correio mais eficiente do mundo. Só perdia pelo “Correio Real” da Inglaterra.

Outro setor que também passou por uma reforma drástica nos mesmos moldes dos Correios foi a Receita Federal. Até 1969 eram poucos os que declaravam imposto de renda. Me lembro que, em 1971, eu fui fazer um curso intensivo em Washington mas, para sair do País, eu tive de fazer minha declaração de IR. Eu nem sabia o que era isso. Pra mim, IR era coisa de gente rica. Foi a partir do início dos anos 70 que todas as pessoas – produtores, comerciantes, profissionais liberais e funcionários públicos – passaram a declarar seu IR anualmente. A receita tributária do governo deu um salto estratosférico.

Foi na época das grandes taxas de crescimento do PIB que o governo federal todo se modernizou, realizando inúmeros concursos públicos para selecionar gente mais capacitada para tocar as atividades governamentais. Para isso, o governo teve de pagar salários bem mais elevados, competindo com o setor privado pela mão-de-obra mais qualificada. Meu salário, de repente, se elevou a tal ponto que se distanciou exponencialmente em relação aos salários da geração anterior – a de meus pais. Era a famosa geração de “tecnocratas” – a maioria constituída de economistas. Eu fui um deles, indo trabalhar no IPEA – então o órgão técnico mais conceituado e seletivo do governo federal.

Pois é, essa foi a fase de ouro do Brasil. Ouro na música popular e nas artes em geral; ouro nas reformas profundas de setores vitais do governo federal, ouro nas grandes obras de infraestrutura (estradas, aeroportos, hidrelétricas e portos); ouro na seleção de pessoas altamente qualificadas para planejar e executar as atividades do governo – na época chamado de “locomotiva da economia”.

Infelizmente, esse fenômeno de crescimento e desenvolvimento econômico não se manteve a partir dos anos 80. As taxas de crescimento do PIB têm se situado há muitos anos em 1%, 2% ao ano. Vez por outra, essa taxa é negativa. Em outros termos, o PIB vem crescendo praticamente igual ao crescimento da população – o que significa que o padrão de vida das pessoas permanece estagnado. Tá phoda!

Época boa mesmo foi a minha época. É por tudo isso que costumo chamá-la de “geração de ouro”. Uma geração que não se repete. Mas, infelizmente esta geração está partindo aos poucos. Restam poucos de nós!

Chantecler

Mozart Foschete

Poleiro do Chantecler – O ferrinho do dentista.

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