“Ôooo Super! Ô Super Zé”! Desta vez a resposta do meu chamado ficou muda. O sorriso marcante, a áurea alegre e jeito sereno de receber os amigos não estava mais ali. A porta fechada do estabelecimento, agora uma livraria, ceifou ainda mais meu coração.
Quando cheguei a ‘Bondes’, neste final de semana, mais uma vez, não encontrei o eterno amigo Zé Mauro. Maldita pandemia! Levou o mais cruzeirense dos torcedores apaixonados. Levou as resenhas esportivas, políticas e culturais. O fim do palco dos artistas municipais que, ali dedilhavam suas melodias antes da apresentação, ao vivo, no programa dominical da Rádio Difusora.
Cadê o “Super”? O conhecido Zé Mauro, que na verdade se chamava José Raimundo. Remomero a minha infância. Cresci ali na convivência do Bar e Mercearia do Zé Mauro. Entre conversas políticas, esportivas e principalmente os causos e personagens da “Cidade Sorriso”.
O meu gosto pelo jornalismo esportivo iniciou lá. Corria e corria muito até a Banca do Peninha para receber o exemplar da revista Placar. O acervo antigo já havia sido devorado pela minha memória. Sem falsa modéstia, um tipo de Milton Neves tupiniquim. Sabia tudo de Atlético, Flamengo, São Paulo e até do Cruzeiro. O Super Zé me confidenciou toda a história celeste.
Lembro-me dos papos históricos com o dentista Zé Pessoa, o “Doutor”, que deliciava sua cerveja gelada de forma reservada. Eu vestia uma gandola verde-oliva do Exército, utensílio do folclórico Foto da Vinci. O “Doutor” me chamava de ‘Sadanzinho’, devido a eclosão da Guerra do Golfo, nos meados da década de 1990.
Trocamos ideias sobre o livro das Profecias de Nostradamus, exemplar emprestado de minha eterna mestra de língua portuguesa, Dona Célia Assunção. Os destinos do Kuwait e do Oriente Médio foram ‘decididos’ ali no Bar do Zé Mauro.
Caso o Galo vencesse seus jogos, nem esperava o Hilton Coruja abrir o bar. Eu me encontrava ali aguardando a chegada dos torcedores do Cabuloso. E se perdesse, me escondia na casa da Dona Aninha, para não receber aquele sorriso azul do Zé Mauro. Ele nunca criticou o rival, um ‘gentleman’ das arquibancadas. Escutava gregos e troianos, por isso seu estabelecimento era frequentado por atleticanos, americanos e cruzeirenses.
No feriado da Independência, estive em Bom Despacho. Aproveitei para tomar uma cerveja gelada no bar e Mercearia. Eu e o Zé Mauro relembramos minha infância, dos jogos memoráveis de nossos times e a alegria de ter crescido ali na sua companhia.
Só não sabia que era a última vez que veria meu amigo. Entre suspiros e soluços, falo: “aproveite o tempo, visite, converse, abrace e esteja perto daqueles que amam e gostem. Talvez, não terá uma segunda chance.
“Ôooo Super”. No meu retorno à Cidade Sorriso não encontrei o Super Zé e seu bar aberto. Hoje já extinto. Mas mesmo assim o chamei. Minha esposa, a doce Vivi, até se assustou com minha atitude.
Eu precisei chamá-lo na tentativa de calar minha saudade. Ali fez parte da minha infância e minha eterna amizade com o bom e velho Zé Mauro.
Sempre terminarei em lágrimas. Um grande abraço para a Dona Aparecida, Hilton, Wellington e família.