Poleiro do Chantecler – Coisas do cotidiano
Meus caros, raros e fieis leitores,
Neste mundo de hoje, a vida social é feita de modismos: todos fazem ginástica em academia, muitos têm seu “personal training”. Se você não tiver, ai de você! Você está por fora, minha amiga! O esporte da moda é o tal de “beach tênis”. Toda mulher moderna está praticando “beach tênis”, leve ou não jeito pra coisa. Se não praticar “beach tênis”, você não é moderna. Aliás, você nem participa da vida social Até mocinhas de 14, 15 anos já estão frequentando a academia e, claro, com seu “personal training” – vê se pode! Agora, já está surgindo por aí um novo esporte que está rivalizando com o “beach tênis”. É o “picklebal”, jogado numa quadra pequena de lisonda, com a rede rente ao chão, já ouviram falar? Bem, vi isso lá no meu clube – o Cota Mil – em Brasília. E esse jogo é tão bom que até os meus amigos, já um tanto idosos, estão praticando. É mais leve que o tal de “beach tênis”. Valha-me Deus!
E tem mais: além de frequentar academias de ginástica e de pilates, muitos (e muitas principalmente) ainda fazem longas caminhadas duas ou três vezes por semana. Os médicos dizem que isso é ótimo: melhora o preparo físico e melhora a circulação do sangue.
Pois eu já não faço mais nada disso. Já pratiquei muito esporte quando mais jovem, principalmente esporte de bola. Depois dos 50, passei a praticar tênis. Eu até gostava muito. Mas, em 2020, em plena pandemia da Covid, fui jogar uma dupla de tênis numa quadra que eles chamam de “tênis fast” – que é de um cimento áspero – e, ao correr para tentar rebater uma bola, pisei no cadarço do meu tênis. Já um tanto velho que eu já era, não tive reflexo suficiente para aparar a queda e bati com toda a força o rosto no chão. Quebrei o nariz, cortei a testa e perdi oito dentes. Uma sangueira danada. Direto para o hospital.
Foi meu último tênis. Encerrei ali minha carreira esportiva. Inclusive, nem mais caminhadas eu faço. A bem da verdade, nunca gostei de fazer caminhadas. Nem mesmo quando eu era jovem. Agora é que não faço mesmo. Os médicos, alguns amigos, minhas filhas e minha esposa Paulette vivem insistindo comigo para dar umas caminhadas. Recuso peremptoriamente. E tenho alguns bons argumentos para isso.
Primeiro: como já passei dos 80, me resta pouca energia para gastar e não posso me dar ao luxo de dar uma caminhada de dois ou três quilômetros. A última vez que fiz isso foi há dois anos. Cheguei em casa entregue às baratas, hipercansado. Minha mulher me disse então: “-É assim mesmo. Se você fizer isso duas ou três vezes por semana, você vai melhorar bastante seu preparo físico!” Mas, melhorar meu preparo físico pra quê? Para caminhar uma distância maior amanhã? Pra que? Não vou mais participar de nenhuma competição de caminhada, muito menos de corrida. E tudo o que faço hoje ou é sentado ou deitado. Ora, bolas.
Segundo ponto: todos os atletas “ top” – campeões olímpicos de 100, de 200 ou de 1500 metros ou de qualquer outra modalidade – gastaram trocentas mil energias treinando todos os dias intensamente para chegar a serem campeões. Tinham toda a assistência médica e alimentar à época. Nenhum deles passa dos 80 anos. Se passar, é exceção. Outro dia vi na TV o Jairzinho – uma das estrelas de nossa seleção de 1970. Ele está com 81 anos – mais novo que eu. Mas, como está envelhecido, com muita dificuldade até mesmo para caminhar. Aliás, vejam o caso do Pelé: quantos ortopedistas, fisioterapeutas, nutricionistas e massagistas ele teve? Trocentos. No entanto, aos 78 anos mal conseguia andar… e de cadeira de rodas. Pobre Pelé!
E tem mais: outro dia recebi no celular um “zap” onde o cara dizia o seguinte: “-O inventor da esteira morreu com 54 anos; o inventor da ginástica morreu com 57 anos; o campeão mundial de fisiculturismo morreu aos 44 anos; Mark Huges, – o fundador da Herbalife – morreu aos 44 anos. Mas, em compensação, o criador do frango frito KFC – um lanche nada saudável (mas que eu adoro) – morreu aos 94 anos; o criador da Nutrella morreu aos 88 anos; e imagine só: o dono dos cigarros Winston morreu aos 102 anos; e o cara que industrializou o ópio morreu aos 116 anos… num terremoto; já o fundador dos conhaques Feneci morreu aos 102 anos.
E eu complemento: o ex-ministro Delfim Neto – com quem trabalhei três anos em Brasília – morreu no ano passado com 96 anos, com 125 quilos. Segundo ele mesmo dizia, nunca vestiu sequer um calção e nunca fez qualquer exercício físico. O mesmo aconteceu com o famoso ex-presidente da Academia Brasileira de Letras – Alceu Amoroso Lima, mais conhecido como Tristão de Ataíde – que morreu com 90 anos e também nunca pôs um calção nem fez nenhum exercício físico.
Querem mais um exemplo: o coelho está sempre pulando e correndo de um lado para outro e vive apenas dois anos. Já a tartaruga – que não faz exercício nenhum e caminha muito, muito lentamente – vive mais de 100 anos! Pode?
Agora, me digam uma coisa (como o cara do tal zap pergunta): como os médicos e os meus amigos e parentes descobriram que fazer caminhadas prolonga a vida?
E ainda como conclui o tal cara do zap: o melhor é levar a vida com calma. Relaxe, coma bem, tome um bom vinho ou uma boa cervejinha, beba seu whisquinho ou uma caipirinha de vez em quando, ame muito sua esposa, seus filhos, netos. E seja amigo de seus amigos.
Aliás, não fale mal dos amigos, nem dos conhecidos, nem dos seus vizinhos. Leve a vida numa boa. Isso, sim, é aproveitar a vida com prazer.
E estamos conversados!
Chantecler.