Índice do Unaids mostra estigma contra pessoas que vivem com o vírus
(sigla em inglês), têm dificuldade em revelar que vivem com o vírus que pode
causar a aids. A razão é o estigma em torno da doença, que pode ser transmitida
por sexo não seguro (sem preservativo). O contágio também pode ocorrer por
transfusão de sangue contaminado, uso de seringa por mais de uma pessoa,
instrumentos cortantes não esterilizados ou da mãe infectada para seu filho
durante a gravidez, no parto ou na amamentação.
Unaids, 64,1% das pessoas que têm HIV/aids sofreram alguma forma de
discriminação, 46,3% ouviram comentários negativos no ambiente social e 41%
foram recriminados pela própria família. Um quarto das pessoas sofreu assédio
verbal, quase 20% perderam emprego ou fonte de renda, 17% foram excluídos de
atividades sociais por serem soropositivos e 6% relataram ter sido
agredido (veja gráfico abaixo).
pesquisa Índice de estigma em relação às
pessoas vivendo com HIV/aids – Brasil
, divulgada em Brasília peloUnaids na tarde desta terça-feira (10), Dia Internacional dos Direitos
Humanos.
questionário com 80 perguntas, ouviu este ano 1.784 pessoas com HIV/aids de
sete capitais em todas as grandes regiões (Brasília, Manaus, Porto Alegre,
Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo). As entrevistas foram feitas
este ano por equipe de 30 pesquisadores especialmente treinados, pessoas também
com o HIV/aids, conforme metodologia aplicada nas pesquisas do Unais em outros
países.
O estudo replica no Brasil levantamentos feitos desde 2008 em outros países
(mais de 100). “O Brasil está em patamar similar ao dos países da África, onde
não existe histórico tão grande de mobilização social e luta por direitos
humanos em relação ao HIV/aids como existiu aqui”, compara o psicólogo Ângelo
Brandelli Costa, responsável pela pesquisa. Ele acrescenta que ainda existe
dificuldade em revelar a sorologia positiva. “As pessoas percebem
que não vão ser aceitas pela família, por amigos e até pessoas que elas não
conhecem.”
remédio, não vão buscar emprego por conta do temor em relação a viver com HIV”,
comenta Jô Meneses, da organização não governamental (ONG) Gestos, do Recife.
ouvidas declararam ter sofrido algum tipo de discriminação até por
parte de profissionais de saúde. Há relatos de realização de testagem para HIV
sem consentimento, esquivamento de contato físico e até quebra de sigilo do
estado de súde. Os relatos de discriminação são ainda mais constrangedores
entre pessoas trans e travestis.
não acesso aos serviços de saúde”, pondera Silvia Aloia, do Movimento Nacional
das Cidadãs Posithivas, de Porto Alegre, que participou do trabalho de campo e
coleta de dados. A pesquisadora chama a atenção para o fato de a discriminação
acarretar, no caso de mulheres grávidas, a transmissão vertical para o filho,
problema para o qual há protocolo de saúde e medicamentos que podem evitar o
contágio.
vários tipos de discriminação e quem sofreu não querer contar, ou não poder
contar, se sentindo com vergonha, se sentindo suja, como se algo errado tivesse
feito, quando foi uma prática social que todos fazem”, relata a pesquisadora.
Silvia revela casos de depressão e violência, sobretudo entre mulheres com
pouca visibilidade social, como ocorre com as profissionais do sexo.
a necessidade de educação sexual nas escolas. “Educação da sexualidade não é
ideologia, mas ciência. E tem impacto na qualidade de vida e na saúde dos
jovens. É importante tanto para trabalhar a prevenção quanto a descriminação.”
alinhado ao discurso contrário ao que se fala sobre sexualidade no ambiente
escolar. Isso é uma questão preocupante, quando há crescimento da epidemia
entre jovens”, alerta Limar. O psicólogo Ângelo Brandelli Costa complementa: “É
impossível falar em HIV/aids e não falar em sexo e gênero. Não só por causa da
transmissão, mas por causa dos grupos que são historicamente mais vulneráveis à
epidemia.”
foram diagnosticados no ano passado no Brasil “43.941 novos casos de HIV e
37.161 casos de aids (…) com uma taxa de detecção de 17,8/100.000 habitantes
(2018), totalizando, no período de 1980 a junho de 2019, 966.058 casos
de aids no país. Desde 2012, observa-se diminuição na taxa de detecção de aids
no Brasil, que passou de 21,4/100.000 habitantes (2012) para 17,8/100.000
habitantes em 2018.”
como crime discriminação contra portadores do vírus HIV e doentes de aids.
Ag. Ebc Brasil